Faz bem uns dez anos que saltei de um ônibus na rodovia que liga Itaporã-Dourados no Mato Grosso do Sul. Estava interessado em conhecer de perto uma reserva indigêna. Andei alguns quilomêtros até chegar a reserva, claro, sem autorização alguma. Após avistar algumas habitações cheguei a um local onde me aproximei de algumas crianças. Passei o resto d’aquela tarde jogando futebol e banhando-me num pequeno corrego com eles sem dizer uma palavra em português. Quando começou a escurecer vi algumas araras enomes se aproximarem. Uma delas pousou em meu ombro e fiquei com muito medo daquele bicho me bicar. Foi aí que brinquei involuntáriamente de estatua, o que provocou o riso dos indiozinhos.  Depois disso, me despedi deles com um pequeno gesto e voltei pela pequena trilha em direção a rodovia.

Andei só uma vez até hoje no teleférico do Pão de Açucar, mas comparado a maioria do Brasileiros que não conhece nem o Rio, já está de bom tamanho. Foi em 1999, na época cursava Rádio e Televisão que não cheguei a concluir. Trava-se de um Encontro Nacinal da aréa sediado na Gama Filho.  Tinha  como companhia o Paulo Petrini que além de tratabalhar também estudava comigo, resolvemos digamos “alugar” um taxi para ficar a nosso dispor ao longo de um dia e assim visitarmos com certa comodidade vários pontos turistícos da cidade. Um desses foi o Pão de Açucar. Quando me dei conta já me encontrava dentro daquela cabine não muito pequena a milhares de metros de distância do solo, notei que os edifícios ficavam minusculos diante dos meus pés, vi surgir ao meu lado aquelas imensas formações rochosas e o azul do atlântico. Do alto do Pão de Açucar, pude ver passar pouco abaixo de mim os pequenos rostos das pessoas no interior de um boeing pretes a terrisar no galeão. A sensação das corretes de ar naquela altura também foram indescrítiveis. Estava pensando agora que em nenhum momento senti medo ou insegurança, na ida até soltei uma de minhas risadas, que claro assuntou um pouco os demais turistas.

O Brasil representa a experiência mais importante da minha vida ao mesmo tempo pelo distanciamento  e contraste, mas também porque determinou a minha carreira. Sinto em relação a esse país uma dívida muito profunda. Assim sendo, deixei o Brasil no começo dos anos de 1939 e voltei muito brevemente apenas em 1985, quando acompanhei o presidente Mitterrand, que fizera uma visita de Estado de cinco dias. Ainda que muito curta, essa estadia produziu em mim uma verdadeira revolução mental: o Brasil tinha se tornado totral e inteiramente outro país.

Claude Lévi-Strauss em entrevista com Véronique Moraigne. Tradução: Jorge Villela.

Muito mais tarde, Bougart, Nietzsche e Musil falarão de uma “anarquia de átomos”, a propósito da identidade individual. Ao mesmo tempo, o indivíduo percebe estar vivendo num mundo em que o expõe a estímulos inenterruptos, que o assedia com mensagens e solicitações incessantes, que muitas também chegam sem avisar, inadvertidamente, subliminares. O indivíduo sente que não está a altura desse contínuo bombardeio de estímulos e mensagens, que não enriquecem, mas o aturdem. Nessa voragem, as mensagens surgem e são suprimidas com frequência, o que leva a uma espécie de desconexão, um afrouxamento dos elos de ligação, que sustentam a integridade da pessoa. O sujeito percebe cada vez mais intensamente, essa ameaça e o medo de ser desagregado do mecanismo social, sempre mais complexo e atormentador. Ele sente, sobretudo, que essa contínua agressão do provisório e do instantâneo o faz viver sempre no que não é o essencial, à espera de que, depois dessa vertiginosa sequencia torturante de superficialidades, comece a vida verdadeira. Desse modo, o indivíduo, se dá conta de que vive sempre e apenas “entre”, “enquanto isso”, à frente da vida, antes de viver a própria vida, como se essa devesse sempre começar e como se aquilo que está acontecendo – isto é, toda a existência – não fosse outra coisa que uma preparação, provisória e não essencial, à espera de algo que não vem. Diante desse mal-estar, há respostas e reações diversas. Uma estratégia defensiva e autodestrutiva consiste na autoreificação, na tentativa de transformar o próprio desconforto em um instrumento de defesa. Canetti analisou em seu livro Massa e poder essa estratégia. Ele fala da “coisa”.  Uma coisa, diz, pode ser tomada, mudada de lugar, usada; pode-se fazer com ela o que se quer; pode-se, até mesmo, destruí-la. Mas uma coisa, um objeto não interioriza, não extirpa os espinhos – afirma Canetti – do comando. Vale dizer, não extirpa todas as situações espinhosas que, de todo lado, são impostas a uma pessoa consciente de seus deveres, das exigências, das ansiedades cotidianas. Esses espinhos permanecem nela como farpas venenosas. Uma coisa não armazena essas farpas, não as conserva em si, não se contamina com seu veneno. A tentativa de fazer-se “coisa”, de não participar, de enrijecer-se nasce desse desejo de fugir das pressões e dos venenos da realidade.

(…) Há também uma outra estratégia, a dos que não sofrem com a ausência da vida – de uma vida que não existe nunca, mas que, mesmo assim, ainda é necessário alcançar – e que tentam prolongar a expectativa da vida, na esperança de que esta não venha nunca porque creem que, se viesse, comportaria algo de tragicamente destrutivo, que a espera e o adiamento afastam. Esse percorre, por exemplo, os contos de Walser, cujos personagens procuram viver sempre à espera da vida, em sua anticâmara, já que a existência real, com toda a sua determinação, seria insuportável. Quer-se, pois, viver em uma indeterminação que deveria ser a vida verdadeira, uma vida pura e essencial, desprovida de todas as determinações que a especificam, que a tornam real, mas são sentidas como intoleráveis.

Cláudio Magris, Alfabetos – Ensaios de Literatura. Tradução: Maria Célia Martinari.

“Como reconhecer o pós moderno:
Se de modo algum vocë consegue definir se o quadro está de cabeça pra baixo ou não – é pintura pós-moderna.
Se você vê, vira e revira, e o sentido está no revirar e no não-dito – é poesia pós-moderna.
Se você tem de segurar a tampa enquanto faz pipi no vaso, é design pós-moderno.
Se você devolve ao bombeiro hidráulico pensando que é uma ferramenta esquecida, e depois descobre que é um presente do seu gatão – é escultura pós-moderna.
Se chove dentro – é arquitetura pós-moderna.
Se você fracassa porque buscava exatamente a antivitória – é filosofia pós-moderna.
Se você pratica o homossexualismo não por formação ou destinação biológica, mas por experimentalismo sadomasoco-niilista – você é uma boneca pós-moderna e muito da louca, bicho(a)!”
Millôr Fernandes  em A Biblia do Caos.

Bom pessoal, achei esse video e tbm esse. E ainda esse  texto um pouco longo, mas muito esclarecedor sobre nosso assunto.