Utilmamente só consigo pensar na Bruna e na sua fratura. Não, não estou apaixonado por ela, embora seja encantadora, uma verdadeira junk. Seria lindo se me apaixonasse por ela, ela tem um olhar tão doce que logo se vê que não foi ela que não deu certo. Sua beleza é marcante porque não aparenta ser mais jovem do que é, mas sua idade mesma e no entanto é bela. Não sei bem como nos conhecemos provavelmente foi num bar, claro que foi num bar. Ela faz lembrar todos os amigos undergrounds que tive. Eles adorariam conhecê-lá. Ontem desencaixontando algumas de suas coisas encontrei alguns livros, fiz comentei breve mais com o intuito de querer impressioná-la.
Ela muda ou é convidada a sair constantemente das pensões. Tirei uma foto de sua cama de solteiro num minúsculo quarto com banheiro e lembrei que vivi muito nessa mesma situação, jogado por aí sem me importar. Depois saímos para tomar um café e bebemos cerveja. Ela me contou que as pessoas ficam falando ou lhe fazendo lembrar de de sua fratura, um filho que ela não pode ver, uma cara que ela ama, mas que não passa de um playboy rico. Estes são os ingredientes, e não são poucos. Uma bela garota, linda, inteligente, crítica, culta e que não se rendeu as convenções no interior de uma classe média cheia de etiquetas e padrões. A família dele que muito provavelmente apenas a tolerava a enxotou para fora. A dela por sua vez reproduziu o mesmo gesto, todos a responsabilizam pelo fracasso, mas que grande fracasso é essa sociedade. Agora ela é minha irmã, porque nossos mundos se cruzaram. Ontem segurando um cigarro, ouvindo uma balada rock no fim de mais uma tarde decadente em meios aos escombros deste mundo mirei seus olhos e disse “manã, quer saber, eu também tenho uma fratura”.